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Um Bar Como Pessoa


    Eu tenho uma teoria que diz o seguinte: todo bar, sem exceção, tem uma aura. É como se fosse sua alma, sua personalidade, trazida até nós através do seu ambiente e de seus fregueses. Quase como se esses bares fossem pessoas, inúmeras delas espalhadas por aí, pela cidade.

   Já conheci bares que são como empresários de classe média alta, sempre muito atraentes ao primeiro olhar, caros como devem ser, mas sempre superficiais. Sempre ligados ao dinheiro, mas sem espírito. Não é um bar que você deseje se entregar. Já conheci também bares que são alegres como a plebe e lá você realmente se diverte. Mas é um bar de único sentimento, onde qualquer outro além da alegria não é bem vindo. E o ser humano não é um único sentimento, mas um vasto caleidoscópio deles. E tem o meu bar, claro.

    O Cão Andaluz é uma pessoa embriagada até a alma, com os sentimentos batidos no liquidificador e misturado com vômito.

   Daqui do balcão observo pessoas chegando ainda sóbrias, todas com suas vidas e seus próprios problemas. Todos nós temos problemas pessoais, eu sei, mas o Cão Andaluz é convidativo para os piores. Vejo-os começar a beber e a fumar, no início alegres, mas as máscaras caem e a pessoa verdadeira se revela. Aquela que sofre, que não precisa se esconder do julgamento social. Uma garrafa de uísque é mais potente que qualquer soro da verdade, e muito mais deliciosa. Três doses de conhaque podem esquentar o frio de sua alma. Traga a garrafa de vodca para a pessoa mais sofrida.

   Então meus fregueses choram com suas canções, cantam-nas em voz alta. Cada uma com uma importância pessoal. O ambiente, com sua constante fumaça de cigarro e as luzes neón torna-se lúdico, embriagado. E tão maravilhosamente hostil e acolhedor.

    O Cão Andaluz é aquela sua mãe fumante e que te bate quando faz alguma merda, mas no fim de tudo é ela que te aconselha e te acolhe nos piores momentos. 

   Noite adentro e aqueles que chegaram sóbrios e sozinhos saem acompanhados de amigos, os melhores, e todos choraram e reclamaram dos problemas da vida. E os esqueceram por um tempo, com a ajuda das inúmeras garrafas de cerveja, uísque, conhaque. Com seus problemas à flor da pele, e ao mesmo tempo pairando acima de suas cabeças, vejo-os se resolverem, finalmente. Concluírem suas questões existenciais enquanto se divertem.

    O Cão Andaluz é, acima de tudo, o playground do mundo. Ou a sala do mais estranho psiquiatra.

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