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O Último Cliente


     Quase ao amanhecer, eu escuto o som do telefone tocar. O bar está vazio e vou atender. Ponho minha vassoura de lado e caminho até lá, me perguntando o que poderia ser a essa hora.
     — Alô. — Digo de forma mais desanimada possível. Odeio atender telefonemas. Sempre são tão inúteis, um método de comunicação nada funcional onde qualquer um pode dizer o que for e a verdade será desse jeito.
     Quero desligar o telefone nesse exato momento.
     —  Alô. Qual o seu nome? — Diz a voz o outro lado.
     — Não trabalho com nomes. Diga o que quer.
     As pessoas geralmente usam o telefone para pedir. Sempre para isso. Seja para pedir conselhos ou para pedir que a pessoa do outro lado da linha se acalme porque a notícia que virá não é nada boa. Geralmente é para pedir que comprem seus produtos ou para pedir que contem ou ouçam seus problemas. Uma besteirada só.
     — Estou pensando no suicídio, mas eu preciso da opinião de um estranho. Disquei qualquer número que me veio à mente e caiu aí. Preciso que me diga o que fazer quanto a…
     — Se mate, é isso que lhe digo.
     — Mas você não ouviu minha história!
     — E nem ouvirei. Mas se você tem dúvidas é porque há motivos. A morte sempre é bem vinda nesses casos.
     — Você não é a favor de lutar? De erguer a cabeça? De ser corajoso?
     — Quase sempre a vida não vale à pena e é preciso ter muita coragem para encerrá-la. O suicídio é apenas uma escolha, como decidir se você vai cursar direito ou medicina. O que importa é o que seu coração manda e não há como voltar atrás.
     — Mas se matar é definitivo. Você pode trancar direito e ir para medicina, por exemplo. Mas não pode fazer nada parecido com a vida e com a morte.
     — Para se matar exige coragem. Não há como voltar atrás. Manter-se vivo sem ambição ou objetivos, isso para mim é covardia. Você mantém uma semi-vida e tem medo de mudá-la, nem que seja drasticamente, encerrando-a. Eu prefiro estar morto a não desejar nada ardentemente. Mas você parece estar lutando demais. Queria ouvir que eu dissesse para não estragar sua vida com pensamentos negativos? Eu digo apenas: mate-se. É melhor e você será mais feliz assim. Viver é ser infeliz. Não sei quais são os seus problemas, mas se você não consegue resolvê-los ao ponto de achar que morta estará melhor, que seja. Queria um conselho. E eu lhe dei o meu.
     Silêncio do outro lado. Por um minuto inteiro.
     — Sabe o que eu farei? Consertarei tudo o que houve de errado na minha vida até agora. A morte como última alternativa. Eu realmente não tinha alternativas, mas agora eu tenho. Minha ambição é consertar toda a cagada da minha vida. Obrigada pelo conselho.
     E desligou.
     Após essa conversa eu chego a uma conclusão. As pessoas pedem conselhos porque querem contar seus problemas. Não porque querem realmente ser aconselhadas. Geralmente elas costumam fazer o oposto do que dizemos, ignorando totalmente o que falamos.

     Talvez a melhor alternativa seja usar a psicologia reversa, afinal. 

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