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O Beco Bêbado



    Não é a escuridão que nos impede de enxergar o Beco, é a invisibilidade das pessoas que vivem nele, a não ser que você seja ou se torne uma delas. O Beco Bêbado não é a causa, é a consequência; é o contorno de corpos, muros, quadras e cenas de crimes. Tem um começo e fim imediato, assim como tudo que o habita.
    Ao adentrar o Beco, certifique-se de que deixou distante seus preconceitos. Não tenha medo, o medo é uma espécie de preconceito. Assim como o amor gratuito e boas ações. Apenas percorra discorrendo mentalmente sobre cada extensão. Aproveite a liberdade clandestina de beber, fumar ou até se jogar do mais alto que conseguir pelas escadas à direita.
    No Beco cada sentimento sórdido, mórbido e insólito poderá ser exposto. Não fuja das brigas se sentir vontade de viver, reconheça os gostos de dose amarga e sangue. E ao sair, por favor, force-se ao máximo para conseguir sentir o cheiro dele que impregna na roupa e na pele. O odor de suores e outras escatologias que o ser é capaz de causar. É prazeroso.
    A partir deste momento, dentro ou fora do Beco, você reconhecerá seus habitantes e visitantes. Enxergará. Reconhecerá quem já passou ou ainda passa por esse submundo autofágico. Você será um deles.

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