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O Cão Andaluz



   Acomode-se no Cão Andaluz, o bar mais sujo de todos. Sente-se em uma das mesas encostadas nas paredes, nos bancos pouco confortáveis e com mesas bonitas, mas antigas. Acostume-se à luz neon, deixando o local claramente escuro, assim como a vida é. Um lugar que pode ser a sua segunda casa, se por um acaso você se encaixar por aqui.
     Peça uma bebida e ela será entregue. Qualquer bebida que quiser, da mais barata até a mais cara. Tudo depende do seu nível de vício. Tudo depende do quão fundo no poço da sujeira você quer chegar. Quer uma cerveja? Ok, desce uma. Prefere algo mais forte? Aceita um uísque? Ou uma caninha mesmo?
     Em um canto reservado só para isso, desfrute de um jogo de bilhar que o levará para longe. Seu último jogo, seu último método de diversão, antes de alcançar o inferno; seja ele interior ou exterior. Será a última luz antes de você adentrar no túnel da perdição.
     Ah, e que luz! Um belo sol que você sentirá eternas saudades. Mas você entrou no Cão Andaluz e será aqui que você irá se perder.
     O Cão Andaluz serve para você como um barco furado no mar aberto; você sabe que irá afundar, não sabe onde está a ilha mais próxima e sabe que consequentemente irá se afogar.
     Mas irá se afogar em uísque. Venha até o balcão então que eu te sirvo do melhor.
     Aproveite que está aqui e ponha uma canção na jukebox amarela, antiga, empoeirada e a mais bela poetiza desse lugar. Quer chorar suas angústias aqui ouvindo um Jhonny Cash? Ou quer se lembrar de bons momentos que jamais serão revividos ouvindo um AC/DC? Quer explodir em raiva ouvindo um Slayer? Ou tentar se acalmar ouvindo um Led Zeppelin? Ou você é um saudosista da noite, visitando o Cão Andaluz e preferindo escutar um Frank Sinatra ou Chuck Berry?
     Vá até ela, vá até a jukebox e ela talvez seja a única mulher que você irá ter essa noite.
     Olhe as mulheres do Cão Andaluz; mulheres feias, todas; mesmo as mais belas fisicamente. Todas com uma história. Uma história que nunca conheceremos e que pouco nos importa. Assim como a de todos que vêm até aqui, independente do sexo, classe e raça. Inclusive você. A não ser, claro, que conte sua história para o Dono do Bar, que está para servir de ombro amigo para todos os melancólicos visitantes desse local. Ele não irá se impressionar com nada que disser, sempre enxugando um copo com um pano limpo, ouvindo mas sem demonstrar interesse. Não irá se impressionar porque ele já viu e ouviu de tudo. Mas não se intimide; ele tem certeza que a sua história será única. Afinal, o Cão Andaluz vive de unidades. Pessoas à margem da sociedade, ou melhor dizendo, a verdadeira face dessa nossa sociedade e dessa nossa humanidade.
     Está preparado para contar sua história para o dono do bar? Então comece. Eu estou ao seu dispor. 

     Mas beba seu uísque primeiro. 

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